Manfredi acordou cedo naquela quinta feira, pegou um ônibus e foi à feira de são Joaquim, na barraca de cerâmica, ele comprou quatro metros de cordas, dessa vez não comprou nenhum vaso, pote panela, tacho ou moringa, apenas corda. Da feira ele foi ao comercio e comprou uma camisa azul de malha e uma calça cor laranja, subiu o plano inclinado Gonçalves e foi da Praça de Sé até a descida da Barroquinha e comprou uma sandália de couro cru. Foi ao supermercado e na seção de bebidas importadas comprou quatro garrafas de uísque importado doze anos.
Em casa ele desenhou e pintou uma lua na frente da camiseta, e um sol bem vermelho na perna esquerda da calça, estendeu a corda no seu ateliê e pintou-a de varias cores, secou duas garrafas de uísque nesse dia, ouvindo repetidas vezes a quinta sinfonia de Beethowen, a noite e o sono o apanharam no ateliê e lá mesmo ele dormiu.
Na sexta feira ele acordou com o som da musica e a solidão dos pássaros cantando o novo dia. Tomou o café da manhã com frutas e queijo e pão integral. Preparou o almoço, peixe grelhado com batatas cozidas, e salada de espinafre.
Depois voltou ao ateliê para arrumá-lo... separou as pinturas dos desenhos, as esculturas, as gravuras... percebeu pelas datas das obras que já se foram mais de sessenta anos de arte, a maioria dos trabalhos participaram de salões bienais e exposições, mas de algum modo voltaram para ele sem que alguém os quisessem comprá-los.
Depois de arrumados, ele parou e ficou contemplando os mil e quinhentos metros quadrados de seu ateliê com mais de duas mil obras que o faria ser o artista mais famosos e profícuo que já passou por aqui... pensou em sua infância na Espanha, sua vinda pro Brasil com o tio rico, seu encantamento com a terra... depois pensou nos filhos que nunca teve, dos sobrinhos que se recusou a ver e a vê-los crescer, no seu tio que morreu só num asilo enquanto ele se esbaldava em artes vernissages, cursos, palestras e bebidas muita bebedeira... no dinheiro gasto com telas e tintas com viagens... para quê tudo isso? .
Ao meio dia Manfredi almoçou, e depois dormiu. Acordou às seis horas quando o sol se punha e pelas vidraças do ateliê ele viu o sol se fechando sobre todos os seus trabalhos.
Manfredi tomou banho se vestiu com a calça laranja e a camisa azul calçou a sandália de couro cru... abriu as duas ultimas garrafas de uísque, pegou a corda jogou na viga no meio do ateliê subiu num banco alto colocou a corda no pescoço e começou a entornar o uísque na garganta enquanto ouvia repetidas vezes concerto de Brandenburg numero cinco.
Daniel Silva Gomes
Nenhum comentário:
Postar um comentário